terça-feira, 29 de maio de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
I(h!)luminar
Se todos os olhares fossem fiéis assim como a vida insiste
em dizer que temos um pouco mais para olhar.
De tantos os cantos que escutamos, palavras soltas e desejos revoltados que se desprendem da
melodia para tornarem-se uma mera ironia. Mas a vida não a seria? Talvez.
Se todas aquelas palavras que foram cortadas antes mesmo de
viverem fossem gaivotas perdidas longe do mar.
De tantos abraços imaginados e beijos incontáveis, que se
rasgam silenciosamente corpo inteiro para tornarem-se só um aparente descaso.
Se fosse não fosse luz, não seria assim tão cruel toda a
escuridão.
De tantos medos tolos, que deixamos nós dois escorrer entre
os dedos numa noite de luzes foscas.
domingo, 27 de maio de 2012
Balada do bailarino – a verdade em sinopse
É
um resumo redundante e curto, que se faz tecer nos olhares secos que escorrem
entre os jogos de luzes da noite.
Ao
aventurar-me nessa noite - que de criança não tem nada - sempre acho curioso
demais as “subcategorias” e até dá vontade rezar mil Ave-Marias. Sinto-me tão perdido
com as personagens encarnadas, com as danças desencarnadas, com os corpos tão
perfeitos espremidos em sorrisos congelados.
Tudo
não passa de uma balada, em que o bailarino por
si só de definição contorce-se sobre o eixo do outro na intenção de
irradiar ao máximo possível seu cheiro de desejo/desejar/desejado. Igual à
comanda de papel que se aquece no bolso da gente pedindo pra ser preenchida.
Tudo
é uma mera sinopse. A noite do bailarino é o espetáculo perfeito para sua
coreografia exata. Todos, nessa balada, são artistas e expectadores com tantos
números e grandes expectativas numa selva que acaba se tornando tão turva de
não enxergar ninguém.
A
verdade é tão resumida, aliás, tão desnecessária. Pois perde espaço para
cabelos que chacoalham ao som da música que diz tudo de um nada. Os pés que
plantam de verdade o corpo são meros pregos enferrujados que tampam uma couraça
inventada. Os olhares são afoitos, aflitos, desesperados para ver o máximo do
que, na verdade, é mínimo.
O
coração deixa de existir, de dizer algo, de se manifestar – não sei se por medo
ou por vergonha de ver todo o movimento contrário a si – e dá lugar ao corpo
elétrico que gira em todos os dos outros, na tentativa de ser grande, de ser
galante e de ser mesquinho demais para ser belo.
A
balada do bailarino não tem espaço para o pouco, mas tem espaço para o oco,
para o fosco vestido num figurino brilhante, reluzente de sensualidade
banal-fatal e no fim do espetáculo, o que vale é a interação com o maior número
de espectadores e ainda tem espaço para o bingo final... que afinal, qualquer um pode terminar a noite
falando pétalas e distribuindo íntimo amor-banal.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Aniversariar
O que é ter nova idade? Fazer aniversário?
É saborear os dias passados,
Sentir o gosto dos dias vindouros
É querer viver como se nunca tivesse nascido.
É ser inocente como recém nascido-crescido.
Aniversariar é se encher da força do verbo
Se tornar em cada dia um plano,
uma fuga, um alguém.
Aniversariar: verbo sem sujeito, sem predicado.
Incompleto por sí só.
Nova-idade, sagrado testemunho do meio dia e dez minutos
Evidentes tantos mil e um intuitos...
Rolinha de vidro
Bate, bate. Voa, voa. Para e olha.
Entristece e estremece.
Há no meu telhado,
De vidro quebrado,
Uma rolinha.
Passarinho, passarada
Passada em vidros.
Embaçada em medos
Liberdade por um vidro
Coração acelerado igual ramo na alvorada
Voa, voa..olha, olha..bate, bate
Não me mate,
Não me cure,
Não me beije,
Nem me ame.
Junte os cacos desse vidro estraçalhado
Costure os pedaços em aço
E junte as asas-coração em retalho.
Rolinha de pena.
Rolinha de vidro.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Noite fria
Toda emoção que há poderia vir em poesia.
Todo amor que não há poderia ser pó.
Toda vida que foi deveria seguir, como o rio que corre para ele mesmo, ao encontro do inexistente, mas tão existente que é forte para evaporar e subir.
Toda raiva que assola o coração poderia voar como palavras encaixadas,
quando não se há a verdade ou quando a ilusão é ...
Todo amor que não há poderia ser pó.
Toda vida que foi deveria seguir, como o rio que corre para ele mesmo, ao encontro do inexistente, mas tão existente que é forte para evaporar e subir.
Toda raiva que assola o coração poderia voar como palavras encaixadas,
quando não se há a verdade ou quando a ilusão é ...
Domingas Angélica
Uma, de crença na Santa Mãe, nos anjos, arcanjos
e santos.
A outra, crente no Senhor Javé.
As duas de grande fé!
Uma, de risada larga, de histórias de verdade inventada.
De horas marcadas e bem rezadas.
A outra, de ouvidos aguçados, de passos dados
e pausas cansadas.
As duas na mesma estrada.
As duas de vidas desgastadas.
Uma velha,
a outra também!
Domingas de domingo.
Angélica no domingo.
Duas vidas inteiriças.
Várias histórias e muitos causos.
No ônibus da mesma parada.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Com cheiro, sem odor
Eu gostava tanto daquele
teu gosto de pele nua,
Que me deixava assim, numa
maciez de ser toda sua,
Apesar de saber que a tua
água na boca era demais crua.
Eu me encaixava tanto na
sua palidez,
Que saciava assim, numa
eternidade de rapidez,
Apesar de entender que sua
língua era a embriaguez.
Eu detestava qualquer som que fugisse para o odor,
Porque eu tinha medo de
esquecer tudo com o calor,
Apesar de tirar todo o
cheiro de minha pele por seu amor.
Eu gostava tanto quando a
tua cor demais era nude,
Que me deixava assim, num
inferno de inquietude,
Apesar de ver que aquilo
tudo era uma fração da finitude.
Eu gostava tanto daquele
teu gosto de pele nua,
Que saciava assim, numa
eternidade de rapidez,
Eu me encaixava tanto na
sua palidez,
Apesar de saber que a tua
água na boca era demais crua.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Parta-me num abraço
Olhe
atentamente para mim
E
veja que não cheiro a jasmim
Que
não sou fina flor, não sou relíquia que se dê valor.
Beije-me
profundamente
E
sinta que há vermes no vácuo de nosso espaço
Perceba
que a minha lenta morte é teu cansaço.
Toque
meu corpo agora
Pois
esta é a hora
Já
não sou mais eterno, assim como nosso amor.
Rasgue-me
silenciosamente
Igual
à carta de amor que não teve coragem pra postar
Sinta
alegria ao despedir-se de tudo.
Olhe-me.
Beije-me. Toque-me e me rasgue
Pois
já estou aqui há tempos e muito é tarde.
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