domingo, 30 de dezembro de 2012

Senhora das Pérolas


Sem roteiro,
sem destino,
sem fígado
ou intestino.

No sol quente,
mormaço ardente
vento varrendo
e calangos correndo.

A subida
e a descida:
ela, a senhora.

Cabeça erguida,
face baixa
ou anos de lida?

Sem horário estabelecido
daquele moço
pouco vivido
e o olhar para o pescoço.

Destino de si própria,
a senhora
daquela hora.

Reluzentes cordas,
brancas pérolas se via
da senhora do meio-dia.

Foto: D. Amélia, imperatriz do Brasil e rainha de Portugal por sete dias.


Em Pés


O vento sacode o velho-novo sino
e a melodia faz de conta
que o silêncio acaricia.

É cada folha que sacoleja
no pico das árvores
e o canto abafado dos pássaros.

As nuvens que se apressam
na correnteza
do outro ano como nova cria.

O vento balança
até o cavalo de velha
anca
na ânsia.

É cada pé
que se molha na chuva
pra revigorar a fé.

Pés.
Esses que derrubam
até as marés
e chacoalham qualquer mané
que se dizem
avessos ao que a vida quer.

Os meus pés.
Os teus
Os deles
Os nossos
de cada dia
paridos para caminhar
até quando quiser.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

À pequena Acalanto


Ô, ô, ô...
Ô, ô, ô...

Nã, nã, nã, nã
Minha doce pequena, nã, nã
Ô, ô, ô...

Minha flor de açucena, ã, ã, ã
ã, ã, ã...
Tão singela
minha menina
que adormece, agora, ã, ã

Ô, ô, ô...
Ô, ô, ô...
Pra você
todo meu calor
Ô, ô, ô...
todo meu amor
Minha delicada
õ, õ, õ
fulô, ô, ô

Sereno que cai-i
da lua cheia
banha teu
sorriso
nã, nã, nã
ê, ê, ê, ê-ê

Na noite escura
vaga-lume
que pelas mãos
te segura
ê, ê, nã, nã
e a leva para
as alturas
Nã, nã.

Ô, ô, ô...
dorme
pequena
fulô, ô, ô


domingo, 16 de dezembro de 2012

Promessa-me


Não me venha com doces
nem doces palavras.

Ih, docinho
quem disse que quero ser esposa?
Não me transforme em princesa
Me tire desse seu amor.

Você transformou tudo
em amor
e isso não é da minha
cor.

Eu gosto de calor.
Não me venha com chocolate
Eu quero corpo nu
e você feito cachorro:
- Vem no meu ouvido e late!

Ih, paixão
quem enganou você?
Não quero anel.
Gosto de sexo em motel.
Curto beijo no cinema
e nada de roupão.

Você virou príncipe
Me disse que não quer
amor errante.

Sou menina fina
gosto de palavas picantes
Me apaixono por amor de amante.

Ih, querido
deixa de ser assim
que eu gosto de ausência
e uma pitada de fim.
Só me visite à noite
e diga que não vive sem mim. 

sábado, 15 de dezembro de 2012

A Moça da Esquina


De saia rodada
com estampa comportada
assim fica a moça
feito visão iluminada.

Moça bonita e faceira
eu quero que me ame
como a pessoa
derradeira.

Com os pés descalços
tripudiando
os percalços
entrelaça nos meus desejos acordando.

Moça de gingado mole
das cadeiras
bambas, de ancas
macias, feito a pinga de meu gole.

Com o cabelo em tranças
feito os caminhos
dessas nossas andanças
e de felicidade feito crianças.

Moça bonita.
Moça da esquina,
raposa traquina,
meu coração por ti vira rima.



sábado, 8 de dezembro de 2012

Sua imagem, meu prato


Ontem, cruzei com você
Não dessa forma démodé!
Sem pranto e ponto.

Percebi o quanto de tonto
tem o amor.
Nem sequer senti calor
A chuva parou e veio
a estiagem
só porque vi
tua comum-imagem.

Ontem, descruzei de você
Não dessa forma mesquinha!
Mas com seu corpo nu
aterrissado sobre a
mesinha.

Disposto no prato
querendo fino trato
Mas agora,
eu quero outro
corpo.

 *Agradecimento a Odailso Berté, que gentilmente colaborou com os termos: "ponto, imagem, prato, corpo".hospedagem de sites de graça

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Crônica sem Quarto



Palavra cansada
deitada
olhando o retrato.

Não diz nada,
desamparada.
Parte rumo
ao quarto.

Perna pro ar,
boca
Macia
a divagar.

Goles e goles.
Lembranças
para não amar.

Palavra
abusada.
Crônica desvairada.
Duas doses de silêncio,
o coração na vitrine.
Quatro doses de martíni!

*Agradecimento a Tati Almeida, que gentilmente colaborou com os termos: "quarto, perna, boca, martíni".melhor hospedagem de sites

sábado, 1 de dezembro de 2012

Salvado


O sol queimava a pele
desamparada
Não havia nada que lhe tirasse
o amor que ainda fere
e olhava a nuvem amada

Último desejo
de ser
a pele arrepiou-se
num relampejo
e do céu desceu
a visão doce

Ancorado nos pés
em invisíveis asas
esticadas
um sentido de fé



Ergueu a vista
ao sentido da proa
colocou-lhe a coroa

Sem um leve pecado
céu acima voou, salvado.

imagem aqui

Picotagem


Recorte-se!
Não é uma saída,
é uma tesoura.
Arraste-se!
Não é uma punição,
é anunciação.

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