domingo, 1 de setembro de 2013

A morada


Vazia.
Acolhida pela aurora que atormentava o sereno pálido, mas reluzente no gramado verde-musgo, acrescentado por pequenos pontos amarelos, de textura aveludado-suave.

Encolhida.
Janelas torneadas por uma borda vermelha, contrastando com as paredes verde-cana. Porém, escondida no meio do lilás de Santa Bárbara, para proteger dos raios, relâmpagos e trovões. Só não protegeu da amargura do esquecimento.

Distante.
Acariciava o luar, vendo o silêncio falar vozes na cabeça e murmurar atordoadas estórias de um tempo muito longínquo, em até os bichos falam a nossa língua.

Fora.
Em mim, morava essa morada vazia de paredes feitas de madeira maciça, com todas as frestas amparadas por arredondadas ripas. Imitavam um auto-relevo, igual à barra da saia da velha que debulhava em forma de godê, tantas vidas numa só.

Dentro.
A casa estava fora de mim e aqui já não existe mais o espaço preenchido pelo barulho coordenado das madrugadas com finos respingos de uma chuva delicada e macia.
Eram tempos de morar fora e dentro de nós. Era uma moradia de memórias...hoje, todas, tardias.


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